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r/c esquerdo


Quinta-feira, 08.10.15

Será que é desta que se acaba a fraude dos candidatos a PM?

Há um par de décadas, pelo menos, que temos vindo a ser coletivamente bombardeados com uma invenção dos media e dos políticos de centro e de direita (por vezes até com umas ramadas a estender-se pela esquerda) que repete até à exaustão a ideia de que os líderes partidários se candidatam, nas eleições legislativas, a primeiro-ministro. A insistência nessa fábula visa transformar as eleições numa espécie de concurso de beleza unipessoal, sem ideologia nem equipa, nas quais só conta mesmo quem chega em primeiro. Pretende-se com isso anular a representação democrática do povo corporizada nos deputados eleitos para a Assembleia da República e restringir as escolhas possíveis aos dois partidos do centrão que, por serem muito maiores do que os outros (sendo que nisso está muito longe da inocência um sistema eleitoral que os protege e a própria fraude das candidaturas a primeiro ministro), são os únicos de onde poderia provir uma "candidatura" viável a PM. A ideia é: se se está a eleger um primeiro-ministro, só vale a pena escolher entre os chefes do PS e do PSD, e a portanto a campanha tende a reduzir-se às qualidades da voz de um ou ao modo como o outro mexe as mãos. E aquele, dos dois, que tiver mais votos, está visto, ganha.

E costuma ser mesmo assim que o voto acontece, o que prova a importância determinante que certos media tiveram durante algumas décadas na política tal como a conhecemos. Desta vez, porém, não foi. Uma porção significativa dos eleitores recusou esta espécie de lógica distorcida e votou em outras candidaturas. E depois muita gente descobriu com surpresa que chegar em primeiro nas eleições não garante que se acaba com o cargo de primeiro-ministro nas mãos. Portugal está neste momento a dar a si próprio uma há muito necessária lição de política e de funcionamento das instituições democráticas.

A primeira grande lição de todo este processo, portanto, e independentemente do seu desfecho, é que as candidaturas a primeiro-ministro são uma gigantesca patranha, concebida com objetivos políticos muito claros. A segunda é a de que a vontade do povo se expressa na eleição de deputados, não de primeiros-ministros. A terceira é a de que a formação do governo e o cargo de primeiro-ministro dependem da relação de forças na Assembleia da República, não de tentativas fraudulentas de subverter o nosso enquadramento legal e institucional. Não é quem ganha as eleições que forma governo: é quem encontra na Assembleia da República condições para governar.

Todos conhecemos os resultados das últimas eleições, mas vamos usar em vez dele um caso hipotético para deixar as coisas cristalinamente claras. Se houvesse em Portugal 20 partidos democráticos que depois de umas eleições elegessem 10 deputados cada um e um partido nazi que elegesse 30, ninguém quereria (à parte os nazis) um governo formado pelo partido nazi, apoiado por 30 deputados e com 200 contra ele. Toda a gente procuraria uma coligação entre todos ou alguns dos outros 20, que permitisse não entregar o país nas mãos dos cães.

E, por mais histérica que se mostre a direita, por mais asneiras que vão sendo ditas e escritas um pouco por todo o lado, é no essencial isto mesmo o que está agora a acontecer. A direita nem 40% dos votos teve. A esquerda teve mais de 60%. Apesar de distorcidamente, esse equilíbrio reflete-se na Assembleia que resultou das eleições. Por conseguinte, se a esquerda conseguir entender-se para formar governo, tem mais legitimidade para isso do que a direita: tem a legitimidade que resulta do voto popular.

Esperemos que esta lição de democracia apague de vez do léxico político português a daninha ideia das candidaturas a primeiro-ministro. Já vai tarde.

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por Jorge Candeias às 18:21

Quarta-feira, 25.03.15

A esquerda e as emergências

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Ainda voltarei a estas muitíssimo lamentáveis declarações de António Barreto, nomeadamente para mostrar até que ponto elas são não só lamentáveis mas reveladoras de muita coisa francamente desagradável.

Para já, queria só deixar uma notinha rápida.

É trágico que os países e os povos só se voltem para a esquerda, ou para a esquerda da esquerda, se preferirem, quando o resto do sistema político os deixa num estado de tal forma catastrófico que já ultrapassa a mera crise e passa ao grau de emergência. É trágico porque coloca os dirigentes da esquerda na posição de ter de gerir situações-limite que, pela sua própria natureza, têm grande probabilidade de correr mal, o que abre as portas a este tipo de baixa demagogia que se vê no vídeo a que acima se liga e no título que o acompanha. Quem ouça os Antónios Barretos deste mundo dizer disparates que Passos e Portas aplaudiriam, sobre "o syriza estar a pôr em crise boa parte da Europa", como se até aqui tudo estivesse a correr às mil maravilhas, como se não houvesse uma multidão de emigrantes à força, outra de desempregados e outra de subempregados, como se não tivéssemos mais dívida, como se o tecido produtivo não tivesse sido em boa medida arrasado, como se ainda houvesse investimento, como se a banca estivesse sólida, como se não se tivesse andado a desbaratar o património de todos para pagar juros exorbitantes, como se as "almofadas financeiras" fossem mesmo boas para nós, como se os nossos gestores premiados e privados não deitassem abaixo empresas que sempre foram sólidas enquanto foram públicas, e podia continuar aqui em como-ses até ficar sem fôlego, quem ouça os Antónios Barretos dizer estes disparates, dizia, e tenha passado os últimos anos escondido debaixo de uma pedra é capaz de imaginar que a crise começou quando o Syriza entrou no governo.

Infelizmente, a verdade é que o Syriza só foi para o governo quando a crise já tinha passado a catástrofe. A crise que outros geraram e que outros geriram, fazendo-a aprofundar-se um pouco mais todos os dias. A crise a que o Syriza está a fazer um esforço sobre-humano, e contra ventos, marés e todas as espécies de sabotagens, para pôr cobro. E a crise que qualquer governo de qualquer partido teria uma gigantesca dificuldade em resolver, mesmo sem ser sabotado por tudo e todos.

Seria bom que, por uma vez sem exemplo, a esquerda, ou a esquerda da esquerda, se preferirem, pudesse pôr em prática as suas ideias em condições de alguma estabilidade. Sem violentas depressões económicas, sem dívidas impagáveis, sem guerras, sem bloqueios, sem sabotagens.

É utopia, bem sei. Mas de que serve a vida sem utopias?

 

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por Jorge Candeias às 22:50

Terça-feira, 17.03.15

O Arquivo Morto

Sem grande surpresa a Presidência da República ou o reformado que ocupa o cargo, arquivou a petição que juntou mais de 19.000 assinaturas, pedindo a demissão do Primeiro-Ministro, por falta de requisitos. Tecnicidades...

 

Estava condenada à partida, porque a falta às obrigações contributivas do sujeito que criminaliza o comum dos contribuintes por dívidas de 3.500 euros e penhora sem apelo as casa das famílias, foi esclarecida quando "deu as explicações que entendeu". As "explicações que entendeu", não todas as explicações ou as explicações necessárias, apenas as que entendeu.

 

Se há coisa garantida em Cavaco é este cinismo retórico e chico-espertísmo, sempre com uma no cravo e outra na ferradura, para mais tarde, podendo ser confrontado com novo escândalo, desmentido ou crítica, poder reinterpretar livremente o que disse ou, o que nós, simples ignorantes não percebemos.

 

Ficámos a saber tratarem-se de questões "politico-partidárias", uns arremessos feios, daqueles feitos por políticos, essa turba asquerosa de gente a que Cavaco não pertence, cravando assim mais uns pregos no caixão da credibilidade da política.

 

E finalmente, deu-lhe um "certo cheirinho a eleições", decerto um cheirinho premonitório ou o tiro de partida para a catadupa de eventos que se seguiram: VEM, investimento em PPPs com fartura, espantosos crescimentos de 2% e o 3º ano consecutivo de viragem.

 

É pena nunca lhe ter dado o "cheirinho a regular funcionamento das instituições", quando a Justiça paralisa meses a fio e é cerceada ao cidadão comum, o ano lectivo começa no final do 1º período num sistema de ensino em cacos e nos hospitais os seus concidadãos morrem de austericídio crónico, nas filas de espera dum SNS levado à ruptura.

 

É pena os sacrifícios terem limites, mas nunca chegarmos ao limite dos sacrifícios, com o IMI a aumentar entre 35% a 40% este ano.

 

É pena tão triste figura presidencial, maestro e ombro amigo de um governo pior, numa altura tão crítica.
Foi mesmo a tempestade perfeita e é penoso vê-lo arrastar-se para o final do seu mandato, com muito "pivete a mandatário de campanha".

 

É pena o Palácio de Belém ter sido apenas o Arquivo Morto de inconstitucionalidades reiteradas, da esperança, da dignidade e da indignação das portuguesas e dos portugueses.

 

Mau, muito mau mesmo... Arquive-se...

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por Ricardo Gonçalves às 17:31

Segunda-feira, 16.03.15

Sobreviveremos?

A campanha eleitoral está aí, e em força. Ele é programas mirabolantes destinados a enganar papalvos, ele é um Cavaco que já não é presidente de coisa nenhuma, não passa de um comissário político ao serviço do seu partido, e se calhar acha (não acha nada; julga é que há por cá parvos que acham) que ao proteger e propagandear o governo dos seus amigos no estrangeiro, tirando da cartola alucinados crescimentos de 2%, não está a meter-se em "polémicas político-partidárias", ele é conferências organizadas de propósito para que possa vir cá um finlandês, uma espécie de Oli Rehn II, avisar para a "necessidade de prosseguir as reformas" e que se lixe que essas reformas tenham feito disparar a dívida que quem as fez dizia querer diminuir, e que importa que tenham destruído a economia que os mesmos afirmavam querer salvar, e que se danem os desempregados, os que já nem desempregados são porque entretanto desistiram, os emigrantes e os sufocados, e nas tintas para que a única reforma realmente feita tenha sido uma brutal transferência de capital dos setores produtivos da economia para a finança.

Eles estão com medo, estão com muito medo, e porque estão com medo vão massacrar-nos com propaganda daqui até setembro ou outubro. Estamos em março. Vão ser seis ou sete meses de propaganda contínua, de contínuas mentiras a dar conta da "viragem" que todos os números desmentem, a falar de "milagre económico" que só existe nas contas bancárias dos novos milionários que este governo gerou, todos os dias, a todas as horas, em cada telejornal, em todos os jornais, nas revistas e nas redes sociais.

Sobreviveremos? Conseguiremos manter-nos à tona dessa enxurrada de aldrabice?

Talvez. Mas só se pudermos contar com a ajuda de coisas como esta.

É que há coisas para as quais a única resposta realmente eficaz é a gargalhada.

 

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por Jorge Candeias às 21:01

Sexta-feira, 13.03.15

Qual será o QI-alvo do governo?

É de ficar de boca aberta com as coisas que saem das cabecinhas que nos governam e nos entram em casa, obedientemente propagandeadas por boa parte da comunicação social. Não teremos sido poucos os boquiabertos ao assistirmos ao anúncio, com toda a pompa e circunstância, do programa "VEM". A ideia em si nem parece má, embora seja no mínimo irónico sair do mesmo governo que pôs tanta gente na fronteira. Mas ideias não bastam; há que ver como se concretizam.

E para lá do nome do programa, que fez imediatamente espalhar pelas redes sociais as piadolas mais infames, e para lá das já esperadas oferendas ao altar dos estágios e dos "empreendedores", que são a deprimente imagem de marca desta gente, o que é realmente espantoso nesta coisa são os números.

Estaria este triste governo que nos caiu em cima realmente à espera de, depois de ter obrigado a "sair da zona de conforto" muito mais do que um quarto de milhão de "piegas," conseguir fazer passar por uma grande medida de combate à perda de cidadãos qualificados uma porcariazita que pretende apoiar um total de... 40 pessoas?

Juro que, ao fim destes anos todos, ainda não consegui perceber se este grupo de malabaristas que passa por governo está a gozar com a nossa cara, ou se está realmente a tentar atingir um público-alvo com este tipo de operações de marketing. E, caso seja a segunda a hipótese verdadeira, que tipo de QI pretende segurar no seu eleitorado.

Não pode ser muito elevado, isso é certo e seguro. No mínimo dos mínimos, terá de ser gente que chumbou a vida inteira à mais básica matemática.

 

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por Jorge Candeias às 14:29



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