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Terça-feira, 26.01.16

Da ingratidão

Marcelo, no discurso da vitória, arranjou tempo para agradecer a este mundo e ao outro, mas não conseguiu dez segundos para agradecer também à principal responsável pela vitória, que ainda por cima lhe pagou principescamente durante a campanha: a TVI.

Mas que grande ingratidão, caramba!

 

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por Jorge Candeias às 17:33

Terça-feira, 19.01.16

Desistir? Que consequências tem isso? Um caso hipotético.

Tem-se assistido nos últimos dias, por parte de alguns partidários de algumas candidaturas, a pressões, declaradas ou dissimuladas, para que outras candidaturas desistam (em prol das suas, naturalmente) à beira das urnas. Em parte, isto é pura e bastante rasa luta política, uma tentativa para atirar para outros as responsabilidades por eventuais insucessos próprios. Mas em parte, deriva de uma genuína incompreensão das consequências que uma desistência tem na prática.

Para responder a esta incompreensão, achei que seria boa ideia que pudéssemos analisar um caso fictício, num país inventado em que todos os candidatos tivessem apelidos alentejanos (porque gosto dos apelidos alentejanos e porque nenhum dos nossos candidatos é do Alentejo; na verdade, são todos do Norte e Centro, com a única exceção do Edgar Silva) e houvesse pouco mais de 5 milhões de eleitores. Ou, mais concretamente, 5174521.

Ora, as eleições presidenciais no nosso país inventado têm as regras iguaizinhas às de Portugal, o que é uma coincidência porreira, e às eleições apresentam-se 4 candidatos: o Gafanhoto, o Patão, o Cascalheira e o Caco. Pouco tempo antes das eleições, o Caco leva vantagem significativa sobre os restantes, perto da maioria absoluta, o Gafanhoto e o Patão andam taco a taco a disputar o segundo lugar, e o Cascalheira está muito para trás mas, o que é de toda a importância, tem apoiantes suficientes não só para alterarem quem fica em segundo, como para determinarem se o Caco ganha ou não à primeira volta. Por conseguinte, toda a gente insiste com ele para que desista e apoie outro candidato, julgando assim ganhar vantagem.

Uma sondagem infinitamente precisa dá as seguintes intenções de voto (e de não voto):

Dos 5174521 eleitores, 2625425 não estão interessados nas eleições, ou não veem ninguém que lhes agrade, e pretendem abster-se. Isso corresponde a 50,7% do eleitorado;

Dos que realmente votam (2549096), 3,6% quer ir votar nulo (fazer rabiscos no boletim, mandá-los a todos para tal sítio, fazer várias cruzinhas, etc.) e 2,3% quer ir votar branco. São 91236 e 57962 eleitores, respetivamente. Mas como nenhum destes votos é relevante nas eleições presidenciais, onde só contam os validamente expressos em algum dos candidatos, os que contam mesmo são apenas 2399898.

O Caco, como disse, tem larga vantagem. Recolhe 1196943 intenções de voto, ou seja, 49,9% dos votos validamente expressos em candidatos. É por uma unha negra que não ganha logo à primeira.

Na luta pelo segundo lugar, o Patão tem 591515 intenções de voto e o Gafanhoto 556515. Está mesmo renhido, com percentagens de 24,6% e 23,2%. Por fim, o Cascalheira tem os muito desejados 54925 votos. Meros 2,3% que podem decidir tudo.

Façamos uma tabela com estes números.

Candidato e etc. Int. voto %total %votantes %voto válido
Caco 1196943     49,87
Patão 591515     24,65
Gafanhoto 556515     23,19
Cascalheira 54925     2,29
Votos válidos 2399898 46,38   100,00
Brancos 57962   2,27  
Nulos 91236   3,58  
Votantes 2549096 49,26 100,00  
Abstenção 2625425 50,74    
Eleitores 5174521 100,00    

Com estes resultados, os candidatos Caco e Patão passam a uma segunda volta, de resultado naturalmente incerto.

Mas Caco quer garantir a vitória já e insiste com Cascalheira para que desista e lhe dê apoio. Por outro lado, tanto Patão como Gafanhoto querem arrebanhar os votos de Cascalheira para garantirem o segundo lugar e passarem à segunda volta, portanto também insistem com Cascalheira para que desista em seu favor. E Cascalheira acaba por ceder.

Desiste, declarando apoio ao candidato Patão.

O problema é que Cascalheira não é dono dos votos dos seus apoiantes, portanto a transferência dos seus 55 mil votos não se faz em bloco para Patão. Pelo contrário, cada votante tem as suas próprias ideias, as suas próprias preferências e até o seu próprio grau de atenção ao que se vai passando. Com a desistência, os votos em vez de ficarem aglomerados dispersam-se. Se é certo que a maioria obedece à escolha do candidato e se transfere para Patão, há minorias significativas de gente que não recebe a informação sobre a desistência e põe na mesma a cruzinha em Cascalheira (ou fá-lo por pura teimosia, querendo com isso dizer que a seu ver o candidato não devia ter desistido), passando a contar como voto nulo, e de gente que decide que, não podendo votar em Cascalheira, mais vale ficar em casa e que se lixe. Uma minoria mais pequena prefere Gafanhoto a Patão e vota nele. Outra, mais pequena ainda, passa a votar em branco. E uma minúscula minoriazinha vai até votar no Caco.

Ponhamos números nestas transferências.

Dos 54925 votos de Cascalheira, 56,81% são transferidos para Patão (31201 votos), 23,60% vão engrossar o voto nulo (12965), 10,27% desaparecem, porque as pessoas desistem de ir votar (5642), 7,43% passam para Gafanhoto (4082), 1,87% votam branco (1025) e 0,02% (10 votos apenas) passam para Caco. Os apoiantes de Cascalheira não gostam mesmo nada do Caco.

No dia das eleições, portanto, os resultados são os seguintes:

Candidato e etc. Votos %total %votantes %voto válido
Caco 1196953 (1196943+10)     50,29
Patão 622716 (591515+31201)     26,16
Gafanhoto 560597 (556515+4082)     23,55
Cascalheira 0     0,00
Votos válidos 2380266 (2399898-19632) 46,00   100,00
Brancos 58987 (57962+1025)   2,32  
Nulos 104201 (91236+12965)   4,10  
Votantes 2543454 (2549096-5642) 49,15 100,00  
Abstenção 2631067 (2625425+5642) 50,85    
Eleitores 5174521 100,00    

E Caco, apesar de só ter conquistado 10 votos, ganha à primeira volta.

E são estas, meus caros amigos, as consequências das desistências.

Voltando à situação real em que nenhum dos candidatos tem apelido alentejano, a da República Portuguesa a eleger o seu presidente, há um único candidato que tem interesse na desistência de um ou mais dos outros. Esse candidato é Marcelo Rebelo de Sousa.

Vamos, pois, nós que não queremos ver o Marcelo na presidência, parar com esta conversa contraproducente de desistências?

 

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por Jorge Candeias às 15:06

Sábado, 07.11.15

Minha nossa senhora da presidência

Professor Marcelo contactando o altíssimo

Bem sei que anda toda a gente distraída com outras coisas, e com toda a razão, mas não quis deixar passar isto porque, bem vistas as coisas, também é importante.

Pois parece que Marcelo Rebelo de Sousa, esse que, segundo toda a direita, já ganhou as eleições presidenciais antes ainda de formalizar a candidatura, terá dito o seguinte durante um mui beato debate que teve lugar em Lisboa:

«Eu acho que é errado dar uma resposta deste teor: era bom que o Presidente fosse cristão, porque se fosse cristão, além das qualidades todas que têm os outros, tem mais uma. Isso não existe. Eu diria o contrário. Tem uma responsabilidade acrescida por ser cristão. Nós, por sermos cristãos, não temos mais direitos. Se temos alguma coisa é mais deveres. Quem mais recebe, mais tem de dar.»

Ênfase meu.

Ora vamos lá a ver. Eu até entendo a intenção, e até a acho simpática. Com efeito, demasiados católicos sofrem da arrogância moral de se acharem melhores que os outros pelo simples facto de serem católicos (o que, de resto, não é defeito exclusivo dos católicos, reconheça-se), e Marcelo mostra-se contrário a essa atitude o que só me merece simpatia.

O problema é o que diz a seguir, naquela frase realçada a negrito. Essa frase é altamente problemática porque nos mostra um candidato que acha que o grau de responsabilidade do Presidente da República está na dependência direta das ideias, irritações, crenças e/ou preconceitos da pessoa que ocupa o cargo. E isso implica que não compreende a natureza do cargo.

Não, caro Marcelo Rebelo de Sousa.

As responsabilidades do Presidente da República são exatamente iguais, seja quem for a pessoa provisoriamente alojada em Belém, e estão definidas na lei. Não têm rigorosamente nada a ver com ser homem ou mulher, católico, ateu ou muçulmano, branco, preto ou de outra cor qualquer, jovem ou velho, de esquerda ou de direita e por aí fora.

E quem não percebe isto, lamento, não está preparado para ser presidente.

Ponto.

 

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por Jorge Candeias às 21:40



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