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Quarta-feira, 01.04.15

Hayek a meia dúzia de passos

austrians

A direita vai a votos com o discurso de que o país está melhor. Pegará na situação económica de 2011 para traçar uma comparação com a actualidade, afirmando que o Portugal de hoje não tem comparação com o Portugal de então. Afortunados, os membros do Governo e os seus apoiantes contaram com o reforço deste discurso pelo principal líder da oposição que, perante um auditório de chineses, afirmou que Portugal está numa situação “bastante diferente” relativamente há quatro anos atrás. Esta inconsistência do PS e a falta de capacidade mobilizadora dos partidos à sua esquerda fazem com que muitos progressistas portugueses depositem a sua esperança no sucesso do Syriza e no reforço da influência do Podemos como principal argumento para contrapor a política do Governo. Ou seja, os eleitores de esquerda em Portugal procuram fora de portas inspiração e forças para lutarem contra um discurso carregado de hipocrisia, não encontrando internamente uma plataforma que lhes transmita confiança na luta contra a austeridade imposta e na apresentação de um programa alternativo suficientemente consistente e credível.

A mera hipótese de ver este Governo continuar em funções por mais quatro anos é, no mínimo, assustadora. As intervenções dos membros que o compõem, numa altura em que se aproximam as eleições, deixam qualquer um perplexo e, até, abananado. É sabido que a maioria dos jovens defronta-se com uma enorme dificuldade para sair de casa dos seus pais, uma vez que não encontram trabalho ou, para os que encontram, os rendimentos não permitem alcançar a independência financeira. Perante isto, o conselho que a Ministra das Finanças dá à juventude é “multipliquem-se”. Sem dinheiro para sair de casa, a juventude deve dedicar-se à procriação. É uma ideia fantástica, não é? Faz lembrar aqueles tempos da Idade Média, onde a ideia de ter muitos filhos era vista como uma forma de combater a miséria, uma vez que permitia aumentar a mão de obra para trabalhar a terra.

Outra frase que a nossa bem-amada ministra disse foi que o país tem os “cofres cheios”. Ora, este argumento é muito utilizado pelos defensores de uma determinada figura. Pois é, os saudosistas da ditadura gostam muito de dizer que, nessa altura, Portugal tinha os cofres cheios. Tanto a uns como a outros, o preço a pagar por isso é indiferente. A isto acresce o facto de os nossos cofres estarem cheios de dinheiro que escoará para os juros de uma dívida astronómica e, consequentemente, impagável, e não para o desenvolvimento do país. É precisamente aqui que reside uma das grandes contradições da política que está a ser posta em prática: apesar de tudo o que se tem feito para se reduzir o défice, não se consegue reduzir a dívida. Ainda assim, a obstinação destes senhores ultraliberais impede-os de procurar soluções alternativas para resolver o problema da dívida.

Existem momentos na política onde é difícil discernir a hipocrisia da obstinação. Um dos mais relevantes relaciona-se com o discurso do Governo sobre o desemprego. Perante o subemprego em massa, a precariedade, a falta de criação de postos de trabalho qualificados, a emigração e outros factores a considerar, como os milhares de cidadãos que vêem na realização profissional uma miragem, os nossos governantes e os seus apoiantes regozijam-se com a diminuição da taxa de desemprego. Ora, para além dos defeitos inerentes à fórmula de cálculo desta taxa, todos sabemos que a sua diminuição não se prende com um melhoramento da economia nacional. Essa diminuição não é mais do que um reflexo de todos aqueles que procuraram no estrangeiro as oportunidades que não encontraram no seu país e, também, de todos aqueles que, estando qualificados para trabalhar em sectores de elevado valor acrescentado, assumem funções despidas dessas mesmas qualificações. Não nos esqueçamos que o país investiu na qualificação dos mais jovens, à imagem do que fizeram as economias mais desenvolvidas do mundo, e que agora desperdiça os frutos desse investimento, desaproveitando o dinheiro gasto e dando a oportunidade para que outras economias absorvam toda esta riqueza criada sem terem que assumir quaisquer custos.

Enfim, perante o discurso do Governo, teremos que ter nervos de aço e procurar não nos deixar desviar daquilo que teremos que fazer: alicerçados sobre uma base teórica forte de cariz progressista, assumir uma postura prática no desenvolvimento e na apresentação de um programa que responda à urgência das questões de curto-prazo e lance as bases para uma política de desenvolvimento de longo prazo. A situação a que chegamos é também da responsabilidade de todos aqueles que não souberam congregar e organizar forças para combater o rumo ultraliberal iniciado nos anos oitenta. Ou assumimos essa responsabilidade, ou seremos espectadores do triunfo de Hayek, Friedman e companhia.

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por Pedro Lopes às 00:22



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