Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

r/c esquerdo


Segunda-feira, 01.02.16

Da independência de certas entidades

A notícia de hoje sobre os aumentos em 150% aos administradores da Autoridade Nacional da Aviação Civil, implementados ao cair o pano do governo de Passos Coelho, além de ser absolutamente chocante pelos montantes envolvidos, em especial quando é decidida pelo mesmo governo que empobreceu violentamente a esmagadora maioria da população, é claríssima no que revela sobre a independência de certas entidades.

A ANAC, recorde-se, é a entidade que tem como funções, entre outras, dar ou não aval a negócios que envolvam a aviação civil. Um exemplo assim ao calhas: a venda da TAP, por pura coincidência decidida na mesma altura e pelo mesmo governo.

A ANAC também é, supostamente, uma entidade independente. E com notícias destas não é difícil antever o grau de independência que ela tem.

Que vos fique para memória futura. Que se lembrem disto da próxima vez que alguém vos vier falar da independência de certas entidades.

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Jorge Candeias às 14:47

Quinta-feira, 03.12.15

Explorar petróleo e gás de xisto?

Embora considere que é absurdo estar-se a insistir na exploração de hidrocarbonetos quando há alternativas bem mais sustentáveis e a poluição gerada pela queima massiva de combustíveis fósseis é a principal responsável pelo aquecimento global, e portanto por boa parte dos problemas ambientais com que vamos ser violentamente confrontados num futuro razoavelmente próximo, não tenho uma oposição apriosística e por princípio a essa exploração. Penso que cada caso é um caso, e em certas situações até é capaz de ser preferível explorar-se do que não se explorar. Um exemplo: creio que provavelmente será melhor explorar-se comercialmente os jazigos de gás natural presentes em regiões polares, enterrados debaixo do permafrost, do que permitir que gases extremamente potentes em termos de efeito de estufa (bem mais do que o dióxido de carbono) sejam libertados livremente para a atmosfera quando o permafrost se fende ou derrete. Idem para o gelo de metano que existe em vastas áreas do fundo do mar, que, com a subida da temperatura deste, tende a sublimar e a ser libertado livremente para a atmosfera.

Ou seja: penso que bem regulada, muitíssimo bem vigiada, usando as técnicas mais mitigadoras possível dos impactos ambientais e em determinadas circunstâncias, a exploração de combustíveis fósseis pode ser até desejável. Em outras circunstâncias, porque uma economia não se torna sustentável de um dia para o outro, pode ser um mal necessário durante algum tempo. E em todo o caso sou de opinião que a informação é sempre bem-vinda. Informação sobre o que existe e onde, por um lado, mas também informação sobre o que se anda a fazer.

Foi por isso que quando, há dias, a associação Contramaré, de Portimão, organizou um debate sobre a prospeção e exploração de petróleo no Algarve, fiz questão de ir assistir. É desse debate o vídeo que abre este post. Transmitido primeiro em direto na internet e depois deixado em gravação no Youtube, o debate durou quatro horas e eu aconselho que o vejam. Não só os algarvios, embora a informação prestada tivesse sido, naturalmente, concentrada no Algarve: é que as concessões de prospeção ocupam uma boa parcela do território continental português e das suas águas, de Vila Real de Santo António a Caminha.

Saí do debate muito mais renitente a tudo isto do que entrei, o que, aliás, tem sido uma constante: quanto mais sei sobre o que se está a passar, menos gosto. A falta de informação e de transparência sobre o que se está e pretende fazer, claramente deliberadas, não auguram nada de bom. Os valores irrisórios que os contratos estabelecem de compensação e pagamento ao Estado português em troca da concessão são quase insultuosos e desmentem as apregoadas vantagens económicas da exploração. As consequências para a região, a sua economia e população, no caso de acidente, em caso de algo correr mal, são demasiado catastróficas para que possamos aceitar este processo com bonomia ou indiferença.

No mínimo dos mínimos, precisamos de muito mais prestação de contas por parte de todas as entidades envolvidas no processo, sem exceção. A começar pelas petrolíferas e acabando no governo, sem esquecer as autarquias e demais empresas, públicas, privadas ou assim-assim, que tenham alguma coisa a ver com o assunto. No mínimo dos mínimos. Sem isso, julgo que a única opção é fazermos fincapé e levantarmos o máximo de obstáculos que nos for possível levantar. Os porquês estão todos no vídeo.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Jorge Candeias às 20:54

Sexta-feira, 23.10.15

O próximo governo de esquerda e a questão europeia vista por um bloquista

Nos últimos tempos têm-se multiplicado as manifestações de preocupação, quase invariavelmente vindas de apoiantes ou eleitores da direita, sobre a magna questão de como poderão sentir-se os eleitores do Bloco de Esquerda, pobrezinhos, com a ideia de ter de abrir mão de uma série de ideias defendidas pelo seu partido sobre a atual e futura situação na União Europeia, ao integrar ou apoiar um governo do mui europeísta PS.

Sendo eu um eleitor do Bloco, confesso que me aquece o empedernido coraçãozinho ver tanto carinho, em especial vindo de quem acha que o meu partido deve ficar impedido para toda a eternidade de desempenhar um papel, seja ele qual for, na governação do país.

Mas acho graça a tanta preocupação. Sabem porquê? Porque os meus adversários estão muito mais preocupados com isso do que eu estou.

Explico porquê.

Sim, é verdade: o Bloco tem, sobre esses assuntos, opiniões diferentes das do PS. E eu, como é natural (embora nem sempre aconteça), partilho em geral da opinião do Bloco. Considero, por exemplo, que é necessário fazer os possíveis para preparar o país para todos os desfechos possíveis da crise da Zona Euro, que está muito longe de terminar (o que é muito diferente da caricatura que a direita faz quando afirma que o Bloco quer sair do euro; isso é simplesmente mentira), e não acredito que se consiga pôr em prática políticas antiausteritárias sem se entrar em choque com regras europeias como o Tratado Orçamental.

Como é que isto se concilia com o respeito por todas as regras que o Partido Socialista preconiza?

Sem grande dificuldade, na verdade.

Porque o primeiro passo para preparar o país para todas as eventualidades é estudar a fundo todos os cenários prováveis e conceber soluções para cada um. É trabalho complexo, que demora tempo, e implica que, pelo menos no período inicial, não se aja na prática. E depois de tudo estudado, a preparação do país para os diversos cenários não implica violar seja que regra europeia for. Não se trata de abandonar o euro; trata-se de preparar o país para o choque ser o menor possível na eventualidade de esse abandono vir um dia a acontecer ou de acontecer qualquer outro problema sério com a Moeda Única.

Onde está a incompatibilidade entre as duas posições? Afinal, o PS exige cumprir-se as regras, não que não se faça os possíveis para preparar o país para imponderáveis. Não vejo, portanto, incompatibilidade alguma, pelo menos até que esses imponderáveis aconteçam de facto. E tanto o PS como a direita afirmam que eles não deverão acontecer; se tiverem razão, nunca sairemos da mera preparação.

Onde está o problema?

Desacordo real existe quanto ao Tratado Orçamental. O Bloco não acredita na possibilidade de quebrar o ciclo de austeridade dentro das regras do TO; o PS afirma que sim, pretendendo consegui-lo procurando pôr em prática aquilo a que chama uma "leitura inteligente" do tratado. E eu penso que não só é inevitável que seja esse o caminho seguido, visto que o PS teve três votos por cada dois à sua esquerda e há condicionalismos vários, internos e externos, que levam a que não seja politicamente viável, neste momento, pôr essa questão em causa, como até talvez seja mesmo desejável que seja esse o caminho seguido, porque no improvável caso de a ideia resultar seria menos traumático do que a alternativa e porque, não resultando, teremos em mãos a demonstração prática de que se trata de uma mera ilusão e poderemos então procurar implementar as soluções alternativas cuja necessidade continuamos a defender, mesmo não as podendo aplicar para já (e, já agora, conviria também dar mais força a quem as preconiza).

Ou seja, eu, eleitor do Bloco, não estou minimamente preocupado com o congelamento provisório de alguns aspetos do programa do meu partido. Sei perfeitamente que ele não teve votos suficientes para ser o seu programa a servir de base a um governo, sei que, com 10%, só poderá aspirar a ter uma influência real sobre alguns aspetos da governação e será obrigado a deixar outros para outra altura. Terei pena de que assim seja? Tenho, claro. Preferia que tivéssemos tido o dobro ou o triplo dos votos (ou mais, porque não?), podendo assim pôr em prática uma parcela proporcionalmente maior das nossas propostas. Mas os resultados foram os que foram. Não tendo sido nada maus, estão no entanto longe de ser suficientes para não serem necessários compromissos. Portanto venham os compromissos possíveis. É assim que a democracia funciona.

Não se preocupem connosco, caros direitistas. Nós estamos muito confortáveis com todo este processo. Afinal, foi a Catarina Martins que lhe deu o pontapé de partida, lembram-se?

Se fosse a vocês, preocupava-me, sim, convosco e com a imensa ignorância de que ao que tudo indica sofrem sobre o que é e como funciona a democracia de base parlamentar.

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Jorge Candeias às 23:19

Quarta-feira, 29.04.15

Grécia

É só um post rápido para chamar a atenção de habitantes e visitantes do r/c esquerdo para uma iniciativa importante no campo da informação não comprometida com o pensamento único obrigatório dos tempos que correm. Falo do Observatório da Grécia, site/blogue que pretende reunir informação mais fiável do que a propaganda que anda por aí nos jornais e nas TVs sobre a situação grega e, por extensão, europeia.

O Observatório da Grécia vem também inaugurar a secção de links permanentes aqui no r/c, e aproveito para pedir aos outros residentes (e também aos visitantes, porque não?) sugestões sobre outros links que se lhe poderiam juntar.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Jorge Candeias às 16:47

Quinta-feira, 19.03.15

O tratado orçamental enquanto quadratura do círculo

Há dias, o Ricardo Paes Mamede publicou no Ladrões de Bicicletas um artigo em que afirma que o FMI matou o tratado orçamental. A base para a afirmação é uma tabela em que sumariza as previsões feitas pelo fundo para a evolução da dívida pública em percentagem de PIB, que nem por uma vez respeita uma regra do tratado, que determina que sempre que um país tem a dívida acima dos 60% do PIB deve reduzi-la, em média, um vigésimo por ano, ou seja, 5%. Essa regra está no artigo 4º do tratado.

Ora, eu acho que o Ricardo Paes Mamede tem toda a razão, mas não vejo nisto grande novidade. Que o FMI assuma aquilo que toda a gente já sabe há muito, ou seja, que o tratado orçamental é completamente absurdo e impossível de cumprir, será só mais um episódio dos lampejos de lucidez que volta e meia atacam alguns técnicos do Fundo, enquanto outros técnicos do mesmo Fundo continuam a parecer só conseguir responder com a palavra "austeridade" a seja qual for a pergunta que se lhes faz.

(— Quer um cafezinho? — pergunta, solícita, a Maria Luiz.

— Austeridade! — responde, austeritário, Subir Lall.)

Mas isto não é a morte do tratado orçamental. Limita-se a ser a assunção do nosso não cumprimento.

Ora, o não cumprimento acarreta a possibilidade (e, tendo-se transformado a "União" Europeia na coisa em que se transformou, a quase certeza, diria eu) de sanções, que podem chegar a 0,1% do PIB. Todos os anos.

Parece pouco, 0,1%?

Pois, mas são quase 200 milhões de euros. Todos os anos.

O que vale é que a segurança social já não é viável porque é gerida com os pés. Imaginem se fosse e lhe fossem tirados 200 milhões de euros todos os anos por causa de uma multa pelo não cumprimento de um tratado tão estúpido que até o FMI já percebeu que é impossível cumprir. Deixava de ser, certo?

E é por estas e por outras que eu não entendo como é possível que alguém proponha políticas keynesianas (que são absolutamente fundamentais, não só em Portugal mas em toda a Europa) sem ao mesmo tempo pôr em causa esta aberração orçamental europeia que, numa palavra, as proíbe.

É das tais coisas que não me conseguem entrar na cabeça nem a martelo.

Devo ser muito parvo.

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Jorge Candeias às 20:35

Quinta-feira, 19.03.15

De cofres cheios... e bolsos vazios...

Momento lúdico, encerramento das jornadas da JSD, Maria Luís Albuquerque: "temos os cofres cheios".

 

É uma daquelas frases despudoradas que chocam de frente com a realidade do aumento da pobreza e do mal-estar social que sentimos entranhando-se em todos os poros do corpo.

 

Preferi, de longe, o segundo momento lúdico, quando a ministra nos diz, "Vão-se multiplicar!".

 

É menos educado, mas sempre é mais honesto... pois não tem feito ela outra coisa que multiplicar os portugueses. Multiplica os desempregados, multiplica os emigrados, multiplica os desamparados...

 

O Botas também tinha cofres cheios e um país de terceiro mundo.

 

Os cofres da Maria, são ainda assim, um bocadinho piores, em lugar de barras de ouro e divisas, tem por lá umas notas de crédito.

Temos os cofres cheios de dívida (225.885.000.000€ IGCP:Jan 2015) e os bolsos vazios.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Ricardo Gonçalves às 17:09

Quarta-feira, 18.03.15

Ah, e tal, e a segurança social não é viável

Da próxima vez que alguém vos vier com a sempiterna conversa de que a segurança social não é viável, lembrem-se de que essa mesma segurança social acabou de vender 900 mil ações da PT nas quais se fartou de perder dinheiro.

Bora fazer umas contas?

Diz o artigo que a SS comprou as ações a 5,39 euros cada. O investimento terá sido, portanto, de 4 milhões e 851 mil euros. Agora tê-las-á vendido a um preço médio de 0,6682 euros. Ou seja, conseguiu recuperar 601380 euros.

Ou seja...

Ou seja, voaram pela janela numa única operação, e deixem-me escrever isto por extenso, que vale a pena, quatro milhões, duzentos e quarenta e nove mil, seiscentos e vinte euros.

Agora façam vocês as contas a quantas pensões de sobrevivência, daquelas de 200 euros e picos, isto dava para pagar.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Jorge Candeias às 13:52



Pesquisar

Pesquisar no Blog  


calendário

Dezembro 2016

D S T Q Q S S
123
45678910
11121314151617
18192021222324
25262728293031

Posts mais comentados


Links

  •  
  • Internacional




    Átrio
    (só para habitantes)