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Pois é. Lá apareceu por aí mais um manifesto a suplicar pela unidade da esquerda. Mais um. E eu, que há muito que penso que a unidade da esquerda é fundamental para pelo menos começarmos a solucionar o gigantesco sarilho em que décadas de neoliberalismo descarado ou envergonhado enfiaram este país, e que por isso andei a assinar todos os que me puseram à frente, desta vez não assino. E posso mesmo dizer que dificilmente voltarei a assinar alguma destas coisas.
Porque todos os manifestos a pedir a unidade da esquerda que assinei acabaram por desembocar em mais divisões na esquerda. Um foi desembocar no Livre, outro no Tempo de Avançar, outro foi por portas e travessas que ainda não percebi lá muito bem desembocar naquela coisa estranha da Joana e do Nuno, e por aí fora.
Mas o motivo principal nem é esse.
O motivo principal é eu ter percebido, agora que passo em revista a história destes documentos, que todos eles partem de um olhar sectário sobre a esquerda, a despeito de aparentemente pugnarem pela sua unidade. Muitos escolhem com que esquerda querem que a unidade se faça antes mesmo de dizerem para que fim querem que ela aconteça. Outros mostram-se descarada ou obliquamente contra a esquerda que existe, lançando-lhe farpas e acusações mais ou menos justas, mais ou menos injustas, ao mesmo tempo que exigem que se una, como quem diz "vocês são todos maus, mas é preciso que se unam para isto resultar". Outros fazem as duas coisas ao mesmo tempo.
E este é só mais um. Em vez de defender a associação livre de todos os que se revejam num conjunto de objetivos, procura demarcar territórios, falando dos "principais partidos da esquerda que recusa sem ambiguidades a austeridade," referência que poucas dúvidas deixava logo à partida, dúvidas essas que, para o caso de alguém não ter entendido, o principal promotor logo tratou de dissipar em entrevista dada à imprensa: o PCP e o BE. Os outros? Não interessam.
Não deve ser assim.
Tem de deixar de ser assim.
Sim, a esquerda que rejeita a austeridade deveria unir-se. Mas devem estabelecer-se os objetivos (a renegociação da dívida, a desobediência ou renúncia ao tratado orçamental, porque não será possível rejeitar-se a austeridade sem essas duas coisas) e fazer um apelo e uma proposta de união a todos. Uma proposta de união em torno desses objetivos concretos, aberta aos partidos, movimentos, organizações e indivíduos que os partilhem como prioridades. Sem decidir a priori quem são os partidos, movimentos, organizações e pessoas que se aceita no clubinho e quais se exclui dele antes mesmo de o constituir. Sem ataques preventivos para manter o grupo x ou y afastado.
Simplesmente uma proposta. Simples, clara, honesta e, acima de tudo, aberta.
Quando assim for, poderão contar comigo. Enquanto assim não for, não.