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Domingo, 20.12.15

O Bloco de Esquerda mudou?

É ideia corrente que o Bloco de Esquerda mudou de atitude e isso permitiu o acordo de governo com o PS. Mas terá sido assim, ou foi o PS que pela primeira vez mostrou abertura a acordos à sua esquerda?

Em 2009, Sócrates ganhou as eleições, mas perdeu a maioria absoluta. Apoiou-se na direita para aprovar os orçamentos e os PEC’s (planos de estabilidade e crescimento). Quando o PSD deixou de colaborar, ao chumbar o PEC IV, Sócrates demitiu-se sem procurar outros apoios à esquerda. Guterres também negociou à direita os seus orçamentos. Mário Soares foi primeiro-ministro em coligações com o CDS e com o PSD.

O que mudou em 2015? O PS não ganhou as eleições, mas forma uma maioria parlamentar com a esquerda. As opções eram duas: Viabilizar o governo PSD-CDS, numa ‘oposição responsável’, ou fazer acordos à esquerda. O PSD nunca apoiaria um governo Costa, como acontecera nos tempos de Soares, Guterres ou Sócrates.

O Bloco de Esquerda não mudou, foi a relação de forças entre o BE, o PS e o PSD que se alterou e que obrigou Costa a negociar à esquerda.

Ficar na oposição teria sido uma frustração enorme para os eleitores do PS, com o risco de rápida erosão da sua base eleitoral. Um acordo com a esquerda tinha também os seus riscos, em particular o de uma cisão no grupo parlamentar do PS.

Foi Cavaco Silva quem resolveu o dilema de António Costa, com o seu discurso extremado na indigitação de Passos Coelho. Tamanha inabilidade presidencial teve o efeito contrário ao desejado, afastou o risco de divisão no PS, cavou o fosso entre PS e PSD e encostou os socialistas à esquerda.

O que esteve em causa não foi a sobrevivência política de António Costa, foi também. Esteve em causa, sobretudo, a sobrevivência do PS como partido de poder. António Costa teve essa clarividência e com a ajuda inesperada de Cavaco Silva, conseguiu salvar o PS e ser primeiro-ministro.

O Bloco de Esquerda não mudou, desde a sua fundação tem nos objetivos centrais romper com a alternância ao centro sem verdadeira alternativa nas políticas. Foi a relação de forças entre o BE, o PS e o PSD que se alterou e que obrigou Costa a negociar à esquerda. E temos um governo que não é do Bloco, mas com políticas claramente alternativas face ao anterior. E mais força o Bloco tivesse e mais distintas ainda seriam as políticas.

 

Publicado no DN-Madeira a 18/Dez.

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por Paulino Ascenção às 17:23

Quinta-feira, 03.12.15

Explorar petróleo e gás de xisto?

Embora considere que é absurdo estar-se a insistir na exploração de hidrocarbonetos quando há alternativas bem mais sustentáveis e a poluição gerada pela queima massiva de combustíveis fósseis é a principal responsável pelo aquecimento global, e portanto por boa parte dos problemas ambientais com que vamos ser violentamente confrontados num futuro razoavelmente próximo, não tenho uma oposição apriosística e por princípio a essa exploração. Penso que cada caso é um caso, e em certas situações até é capaz de ser preferível explorar-se do que não se explorar. Um exemplo: creio que provavelmente será melhor explorar-se comercialmente os jazigos de gás natural presentes em regiões polares, enterrados debaixo do permafrost, do que permitir que gases extremamente potentes em termos de efeito de estufa (bem mais do que o dióxido de carbono) sejam libertados livremente para a atmosfera quando o permafrost se fende ou derrete. Idem para o gelo de metano que existe em vastas áreas do fundo do mar, que, com a subida da temperatura deste, tende a sublimar e a ser libertado livremente para a atmosfera.

Ou seja: penso que bem regulada, muitíssimo bem vigiada, usando as técnicas mais mitigadoras possível dos impactos ambientais e em determinadas circunstâncias, a exploração de combustíveis fósseis pode ser até desejável. Em outras circunstâncias, porque uma economia não se torna sustentável de um dia para o outro, pode ser um mal necessário durante algum tempo. E em todo o caso sou de opinião que a informação é sempre bem-vinda. Informação sobre o que existe e onde, por um lado, mas também informação sobre o que se anda a fazer.

Foi por isso que quando, há dias, a associação Contramaré, de Portimão, organizou um debate sobre a prospeção e exploração de petróleo no Algarve, fiz questão de ir assistir. É desse debate o vídeo que abre este post. Transmitido primeiro em direto na internet e depois deixado em gravação no Youtube, o debate durou quatro horas e eu aconselho que o vejam. Não só os algarvios, embora a informação prestada tivesse sido, naturalmente, concentrada no Algarve: é que as concessões de prospeção ocupam uma boa parcela do território continental português e das suas águas, de Vila Real de Santo António a Caminha.

Saí do debate muito mais renitente a tudo isto do que entrei, o que, aliás, tem sido uma constante: quanto mais sei sobre o que se está a passar, menos gosto. A falta de informação e de transparência sobre o que se está e pretende fazer, claramente deliberadas, não auguram nada de bom. Os valores irrisórios que os contratos estabelecem de compensação e pagamento ao Estado português em troca da concessão são quase insultuosos e desmentem as apregoadas vantagens económicas da exploração. As consequências para a região, a sua economia e população, no caso de acidente, em caso de algo correr mal, são demasiado catastróficas para que possamos aceitar este processo com bonomia ou indiferença.

No mínimo dos mínimos, precisamos de muito mais prestação de contas por parte de todas as entidades envolvidas no processo, sem exceção. A começar pelas petrolíferas e acabando no governo, sem esquecer as autarquias e demais empresas, públicas, privadas ou assim-assim, que tenham alguma coisa a ver com o assunto. No mínimo dos mínimos. Sem isso, julgo que a única opção é fazermos fincapé e levantarmos o máximo de obstáculos que nos for possível levantar. Os porquês estão todos no vídeo.

 

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por Jorge Candeias às 20:54


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