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Bem sei que anda toda a gente distraída com outras coisas, e com toda a razão, mas não quis deixar passar isto porque, bem vistas as coisas, também é importante.
Pois parece que Marcelo Rebelo de Sousa, esse que, segundo toda a direita, já ganhou as eleições presidenciais antes ainda de formalizar a candidatura, terá dito o seguinte durante um mui beato debate que teve lugar em Lisboa:
«Eu acho que é errado dar uma resposta deste teor: era bom que o Presidente fosse cristão, porque se fosse cristão, além das qualidades todas que têm os outros, tem mais uma. Isso não existe. Eu diria o contrário. Tem uma responsabilidade acrescida por ser cristão. Nós, por sermos cristãos, não temos mais direitos. Se temos alguma coisa é mais deveres. Quem mais recebe, mais tem de dar.»
Ênfase meu.
Ora vamos lá a ver. Eu até entendo a intenção, e até a acho simpática. Com efeito, demasiados católicos sofrem da arrogância moral de se acharem melhores que os outros pelo simples facto de serem católicos (o que, de resto, não é defeito exclusivo dos católicos, reconheça-se), e Marcelo mostra-se contrário a essa atitude o que só me merece simpatia.
O problema é o que diz a seguir, naquela frase realçada a negrito. Essa frase é altamente problemática porque nos mostra um candidato que acha que o grau de responsabilidade do Presidente da República está na dependência direta das ideias, irritações, crenças e/ou preconceitos da pessoa que ocupa o cargo. E isso implica que não compreende a natureza do cargo.
Não, caro Marcelo Rebelo de Sousa.
As responsabilidades do Presidente da República são exatamente iguais, seja quem for a pessoa provisoriamente alojada em Belém, e estão definidas na lei. Não têm rigorosamente nada a ver com ser homem ou mulher, católico, ateu ou muçulmano, branco, preto ou de outra cor qualquer, jovem ou velho, de esquerda ou de direita e por aí fora.
E quem não percebe isto, lamento, não está preparado para ser presidente.
Ponto.