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r/c esquerdo



Quarta-feira, 29.04.15

Elogio à liberdade de expressão

Muitos motivos haverá, decerto, para tecer rasgados elogios à liberdade de expressão, mas por hoje basta este:

Como, caso não houvesse liberdade de expressão, poderíamos nós conhecer quem é e o que pensa o mentor ideológico de uma figura da nação, tão alta que foi, à semelhança do nosso adorado e atual primeiro-ministro, presidente da juventude social-democrata, que é hoje, de novo à semelhança do que o insigne Passos (o Coelho) foi em tempos, deputado da nação eleito em listas desse glorioso partido que tantas vezes se reduz à sigla PSD apesar de ainda haver quem não se esqueça de que foi em dias pretéritos PPD, e que responde pelo nome de Duarte Marques, apesar de tantos outros, decerto gente sem moral alguma e com piores costumes, preferirem chamá-lo por outros nomes, pelos quais ele, naturalmente, não responde?

Como, pois, como?

Não conheceríamos, está bem de ver. E assim ficaríamos privados de ficar a saber, precisamente e com detalhes, que tipo de altos pensamentos inspiram os deputados do partido que nos governa, o que seria, a todos os títulos, deplorável.

Unamo-nos, pois, todos num viva coletivo a essa tão bela liberdade! Viva ela!

 

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por Jorge Candeias às 21:24

Quarta-feira, 29.04.15

Grécia

É só um post rápido para chamar a atenção de habitantes e visitantes do r/c esquerdo para uma iniciativa importante no campo da informação não comprometida com o pensamento único obrigatório dos tempos que correm. Falo do Observatório da Grécia, site/blogue que pretende reunir informação mais fiável do que a propaganda que anda por aí nos jornais e nas TVs sobre a situação grega e, por extensão, europeia.

O Observatório da Grécia vem também inaugurar a secção de links permanentes aqui no r/c, e aproveito para pedir aos outros residentes (e também aos visitantes, porque não?) sugestões sobre outros links que se lhe poderiam juntar.

 

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por Jorge Candeias às 16:47

Terça-feira, 28.04.15

As Contas da Legislatura

Governo e PS apresentaram as suas propostas de política económica para a próxima legislatura. Esse exercício tem a enorme vantagem de revelar a grande sintonia de pontos de vista entre ambos no que é essencial, ainda que subsistam algumas diferenças de pormenor. E isso é claro de vários pontos de vista.

O primeiro é o da lógica interna do quadro macroeconómico. No caso do PS há dois cenários, mas para os seus redatores aquele que conta é o que parte de expectativas otimistas em relação à conjuntura europeia. Isso é desde logo visível na antecipação do crescimento das exportações na ordem dos 6% entre 2016 e 2019, o que se aproxima daquilo que o governo estimou no PEC 2015-2019 (5,6%). Isto implica prever um novo ciclo que inverta a tendência de desaceleração das exportações nos últimos anos, que cresceram 4,4% em 2013 e 1,9% em 2014.

É verdade que a baixa do preço do petróleo, a desvalorização do euro e as políticas de quantity easing podem dar uma ajuda ao desanuviamento europeu, mas convém não esquecer que grande parte do nosso comércio externo se faz no interior do espaço europeu e, por isso, o estímulo cambial pode funcionar apenas parcialmente. Neste caso as expectativas otimistas de governo e PS podem falhar e inviabilizar todo o cenário macroeconómico antecipado.

Daqui decorre uma série de consequências, a primeira relacionada com a possibilidade de acomodar um ritmo de crescimento das importações igualmente próximo dos 6%, o que marca uma intenção de abrandar a contenção do passado recente. Também neste domínio a proximidade com as expectativas do governo é muito grande (5,45%) e não é por acaso, ambos sugerem um relançamento do consumo privado na ordem dos 2% porque estamos a 6 meses de eleições e não podiam aspirar a ganhá-las de outra forma.

É com base nesta simulação que se anteveem boas hipóteses de crescimento do PIB e do emprego, sendo que o PS é sempre mais otimista (2,6% contra 2,3% em média quanto ao crescimento do PIB e 7,4% contra 11,1% quanto à taxa de desemprego em 2019). Como contrapartida a dívida pública reduz-se mais rapidamente na proposta do governo (117% e 107% do PIB em 2019).

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por adelino fortunato às 17:51
editado por Jorge Candeias às 17:53

Terça-feira, 21.04.15

O Mediterrâneo é a vala comum da nossa desumanidade

O Mediterrâneo é uma vala comum, aberta aos olhos do mundo. Perante a nossa passividade.

Com o último naufrágio, calcula-se que nos últimos dezassete anos tenham morrido mais de 25 mil pessoas neste lago da morte. Que teremos nós a ver com isso, além da nossa comum condição humana?

Como Pilatos, os países da chamada Europa civilizada lavam as mãos enlambuzadas em sangue ao longo dos séculos. Do mesmo modo o fazem os países mais ricos das Américas. Os Estados Unidos esqueceram que a base da sua riqueza está alicerçada em décadas de escravidão. Na recolha de homens, mulheres e crianças, em travessias do Atlântico, amontoados como pedaços de carne, morrendo aos molhos nos porões dos barcos. Com os braços desses que escaparam, encheram-se os campos de cultivo de algodão, as cozinhas e “nurseries” das casas coloniais. No corpo de senadores da nação, de médicos célebres, cientistas, artistas de cinema, corre o leite negro das amas africanas. Do mesmo modo aconteceu no velho continente. Portugueses, primeiro, espanhóis, depois, holandeses, franceses, italianos, ingleses, alemães. Todos se alimentaram do ventre farto da nossa mãe comum. Até à exaustão caçaram-se animais na cobiça do marfim, desventrou-se a terra em busca do ouro e das pedras preciosas. Em veios abertos, até hoje se investe na exploração mortífera dos diamantes em Angola, nos poços profundos que retiram o ouro negro dos solos em terra ou no mar. Delapidando, derrubando florestas ancestrais, abrindo crateras, abrindo vias largas para transporte de produtos ilícitos, dizimando aldeias, culturas, povos. Ninguém está liberto de culpas. Nem a sacrossanta igreja católica (ou protestante), muito menos ela. Que em nome de Deus torturou, prendeu, obrigou  à renegação de fés tão antigas como o mundo. Que quem não era cristão não tinha alma. Lembram-se?

A Lisboa de agora, assim como outras cidades dos impérios de aquém e além mar engordaram os cofres dos reinos, à custa do ouro e do marfim.

Mulheres e homens retirados à sua terra e às suas famílias povoaram as ilhas sem gente de Cabo Verde, trabalharam nos engenhos de açúcar no Brasil, explorados pelos colonos, como tão bem foi denunciado por António Vieira, no século XVII, ou nos campos de café de São Tomé, acorrentados à terra e aos senhores. Assim fizeram outros países.

Dirão agora que isso é passado. Dirão que os povos já fizeram jus ao seu direito de auto determinação e seguiram os seus caminhos.

Puro engano. A exploração e manipulação dos países africanos estende-se aos séculos XX e XXI. Feita de maneira ínvia, mais subtil e encapotada, porém não menos criminosa, antes pelo contrário. Ao cheiro do ouro negro movem-se interesses, manipulam-se governos, incita-se às brigas tribais. Ingere-se em conflitos e esquece-se genocídios. Ignoram-se as calamidades, a desertificação, a miséria extrema. De forma civilizada, pois.

Abriram-se, no século passado, as fronteiras da Europa aos africanos. Era preciso substituir a mão de obra, já de si barata, dos imigrantes do sul. Era preciso que os salários baixassem ainda mais para alimentar os empresários e os capitalistas, e por osmose os políticos. Até que este filão se revelou insuficiente e as empresas multinacionais optaram por criar as fábricas nos países pobres, com menos custos porque livres das regras europeias. Aí esgotou-se a bondade, fecharam-se as portas. Escorraçaram-se os que até aí tinham contribuído para o desenvolvimento europeu, enquanto ganhavam força as forças da direita racista e nazi.

Neste momento, África sofre, além de uma fome endémica em algumas zonas, do terrível flagelo da guerra. Guerras de longe, comandadas pelos senhores da terra e alimentados pelo comércio das armas.

São populações em desespero que se lançam ao mar na tentativa de chegar a Lampedusa, a ilha que os encaminhará para o El Dorado europeu. Porque só um desespero mortal faz com que assim arrisquem a vida, homens, mulheres, crianças. Filhos e pais. Gente. Não extra terrestres, não bichos. Gente. Que sonha, que sofre, que ama. Como nós. Morando numa mesma Casa Mãe, num mesmo Tempo. Debaixo de um céu comum, protegidos pela mesma Carta Universal dos Direitos do Homem.

 Jorgete Teixeira

Nota final: A Jorgete anda com problemas técnicos relacionados com a autenticação no blogue e por isso pediu-me para publicar este texto em seu nome. Aqui está ele. J.

 

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por Jorge Candeias às 23:00

Quarta-feira, 08.04.15

No combate à corrupção está a sobrevivência da Democracia e do Estado Social.

 

No combate à corrupção está a sobrevivência da democracia e do Estado Social.

Não será de estranhar que se descubra cada vez mais e mais corrupção neste país......

A corrupção está subjacente ao próprio sistema capitalista, em meu entender, e ou, outros sistemas que se deixam contaminar por essa mesma lógica do capital........

Na ditadura, contráriamente ao que alguns, saudosistas de trazer por casa, anunciam, o caldo de cultura da corrupção vinha dos mais altos mandos, do próprio "presidente do conselho"....os seus típicos bilhetinhos, por si assinados a "solicitar" este ou aquele favor para o portador são disso exemplo, o regime do favor e do tráfico de influências, e para não ser maçador queria deixar dois exemplos, o proteccionismo de alguns sectores económicos para algumas famílias, e um caso emblemático o "Ballet Rose", em que as "altas elites" do regime envolvidas em actos de orgias sexuais com menores e com maiores......foi tudo "abafado" como era normal nesses tempos, e que levou, por isso mesmo, ao pedido de demissão do ministro de justiça de então, prof./dr. Antunes Varela, por pretender investigar e ir até às últimas consequências com o caso de prostituição infantil..........(era integralista/nacionalista católico, mas pelo menos coerente).

Sendo, pois a corrupção um cancro na nossa sociedade e um caso genético nalguns meios mais poderosos, com ascendentes na ditadura, como fazer?

A seguir à queda da ditadura, como as elites reinantes cairam, pela revolução, e a banca foi nacionalizada e as empresas e os campos tomados pelos trabalhadores, a coisa ficou, durante uns anos, mais difícil. Seguidamente com a consolidação do regime capitalista em Portugal e desta "democracia" à volta do rotativismo dos dois partidos do centro, a coisa foi-se agravando com o sentimento de impunidade que começou a grassar pelas "hostes do Bloco Central"...... uma parte da "casta"......

Os casos têm-se vindo a suceder, tendo-se agravado num determinado governo com o controlo e a gestão dos chamados "fundos comunitários".........plantava-se para se receber subsídio ao hectar, a colheita não se fazia, não era preciso, o subsídio era sobre a área plantada; os cursos de formação foram mais que muitos em que as entidades patronais pediam a assinatura dos seus empregados, para receberam subsídios comunitários à formação, que todos sabemos, pela imprensa, como foram feitos; a compra de jipes 4x4 tinham isenção de impostos pois eram considerados equipamentos de trabalho agrícola, etc, etc, etc.....nunca nada era investigado, nunca nada era controlado.........todos sabemos quem foram esses governantes..........

Depois passou-se mais directamente a outro nível, o tráfico de influências e a passagem de ex-governantes directamente para empresas que antes tutelaram como governantes; os "subsídios de reintegração"; as reformas escandalosas após uns tantos anos de desempenho político; a casta ia-se alimentando da inércia da nossa justiça, também ela, tocada por esta febre avassaladora da ditadura, de tudo abafar, ou "chutar para canto"; as prescrições; a elaboração de legislação penal e criminal extremamente complexa e difusa (prolixa) adequada ao prolongamente indefinido dos processos, até à sua prescrição; investigações "mal feitas" e ilegais nalguns procedimentos, implicando a nulidade da acusação, e anulando o processo; a utilização de casos de investigação, mediáticos, conforme a agenda política conveniente, etc. etc, etc......

Com a "arraia miúda" nenhuma contemplação, aplicam-se os códigos penais de forma célere, pura e dura......as "isenções" são para as elites, endinheiradas......claro está...

O meu amigo Fernando Rocha denunciou e foi testemunha num caso que envolveu milhões.......o processo ía voltar à barra de novo, o Fernando, que se ofereceu para testemunhar, apareceu morto, esperemos pelo resultado da autópsia....

Os recentes escândalos bancários, que se sucedem, onde o Bloco de Esquerda tem tido papel de relevo nas investigações e denuncias, são o exemplo de como se comportam as castas (as "elites" económicas e políticas).....

A ética e a moral, ausentes do desempenho dos recentes cargos políticos, já não fazem demitir ninguém, após escândalos vários, perdeu-se a vergonha, no apego ao pote...

A nós socialistas, a nós esquerda da verdade, e a tod@s @s honest@s e defensores da verdade, do interesse público, da democracia, cumpre-nos o desígnio nacional da denúncia, do combate sem tréguas à corrupção e @os corrupt@s, sobre todas as formas e com a coragem e a frontalidade necessárias.....

Denuncia e punição exemplar de tod@s @s corruptos, criação de medidas e legislação adequada ao combate à corrupção..........denunciando desde já quem se oponha à sua aprovação........(o que tem acontecido bastas vezes por parte do Bloco Central).

Disso depende o futuro do nosso país, disso depende o futuro da nossa, débil, democracia, disso depende a vida de tod@s nós.......

Vamos a isso!!!!!!!!!!!!!

 

Francisco Colaço

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por Francisco Colaço às 16:31

Segunda-feira, 06.04.15

A arte de escrever para idiotas

Há provocações que valem ouro, e esta constitui um belo exemplo. Aconselho a leitura, quer se seja leitor ou mero produtor de texto para ser lido. E sim, o "mero" está no lugar certo. E não, o facto de o texto ser brasileiro e ter sido escrito com a realidade brasileira em mente não diminui em nada a sua pertinência.

Todos escrevemos de vez em quando para idiotas, suponho, mesmo que não seja esse o objetivo, e mesmo que a arte não seja muita. É a conclusão que retirei da leitura.

Talvez seja uma conclusão idiota, vá-se lá saber.

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por Jorge Candeias às 17:40

Sexta-feira, 03.04.15

Manifestos e outros palimpsestos

Pois é. Lá apareceu por aí mais um manifesto a suplicar pela unidade da esquerda. Mais um. E eu, que há muito que penso que a unidade da esquerda é fundamental para pelo menos começarmos a solucionar o gigantesco sarilho em que décadas de neoliberalismo descarado ou envergonhado enfiaram este país, e que por isso andei a assinar todos os que me puseram à frente, desta vez não assino. E posso mesmo dizer que dificilmente voltarei a assinar alguma destas coisas.

Porque todos os manifestos a pedir a unidade da esquerda que assinei acabaram por desembocar em mais divisões na esquerda. Um foi desembocar no Livre, outro no Tempo de Avançar, outro foi por portas e travessas que ainda não percebi lá muito bem desembocar naquela coisa estranha da Joana e do Nuno, e por aí fora.

Mas o motivo principal nem é esse.

O motivo principal é eu ter percebido, agora que passo em revista a história destes documentos, que todos eles partem de um olhar sectário sobre a esquerda, a despeito de aparentemente pugnarem pela sua unidade. Muitos escolhem com que esquerda querem que a unidade se faça antes mesmo de dizerem para que fim querem que ela aconteça. Outros mostram-se descarada ou obliquamente contra a esquerda que existe, lançando-lhe farpas e acusações mais ou menos justas, mais ou menos injustas, ao mesmo tempo que exigem que se una, como quem diz "vocês são todos maus, mas é preciso que se unam para isto resultar". Outros fazem as duas coisas ao mesmo tempo.

E este é só mais um. Em vez de defender a associação livre de todos os que se revejam num conjunto de objetivos, procura demarcar territórios, falando dos "principais partidos da esquerda que recusa sem ambiguidades a austeridade," referência que poucas dúvidas deixava logo à partida, dúvidas essas que, para o caso de alguém não ter entendido, o principal promotor logo tratou de dissipar em entrevista dada à imprensa: o PCP e o BE. Os outros? Não interessam.

Não deve ser assim.

Tem de deixar de ser assim.

Sim, a esquerda que rejeita a austeridade deveria unir-se. Mas devem estabelecer-se os objetivos (a renegociação da dívida, a desobediência ou renúncia ao tratado orçamental, porque não será possível rejeitar-se a austeridade sem essas duas coisas) e fazer um apelo e uma proposta de união a todos. Uma proposta de união em torno desses objetivos concretos, aberta aos partidos, movimentos, organizações e indivíduos que os partilhem como prioridades. Sem decidir a priori quem são os partidos, movimentos, organizações e pessoas que se aceita no clubinho e quais se exclui dele antes mesmo de o constituir. Sem ataques preventivos para manter o grupo x ou y afastado.

Simplesmente uma proposta. Simples, clara, honesta e, acima de tudo, aberta.

Quando assim for, poderão contar comigo. Enquanto assim não for, não.

 

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por Jorge Candeias às 21:14

Quarta-feira, 01.04.15

Hayek a meia dúzia de passos

austrians

A direita vai a votos com o discurso de que o país está melhor. Pegará na situação económica de 2011 para traçar uma comparação com a actualidade, afirmando que o Portugal de hoje não tem comparação com o Portugal de então. Afortunados, os membros do Governo e os seus apoiantes contaram com o reforço deste discurso pelo principal líder da oposição que, perante um auditório de chineses, afirmou que Portugal está numa situação “bastante diferente” relativamente há quatro anos atrás. Esta inconsistência do PS e a falta de capacidade mobilizadora dos partidos à sua esquerda fazem com que muitos progressistas portugueses depositem a sua esperança no sucesso do Syriza e no reforço da influência do Podemos como principal argumento para contrapor a política do Governo. Ou seja, os eleitores de esquerda em Portugal procuram fora de portas inspiração e forças para lutarem contra um discurso carregado de hipocrisia, não encontrando internamente uma plataforma que lhes transmita confiança na luta contra a austeridade imposta e na apresentação de um programa alternativo suficientemente consistente e credível.

A mera hipótese de ver este Governo continuar em funções por mais quatro anos é, no mínimo, assustadora. As intervenções dos membros que o compõem, numa altura em que se aproximam as eleições, deixam qualquer um perplexo e, até, abananado. É sabido que a maioria dos jovens defronta-se com uma enorme dificuldade para sair de casa dos seus pais, uma vez que não encontram trabalho ou, para os que encontram, os rendimentos não permitem alcançar a independência financeira. Perante isto, o conselho que a Ministra das Finanças dá à juventude é “multipliquem-se”. Sem dinheiro para sair de casa, a juventude deve dedicar-se à procriação. É uma ideia fantástica, não é? Faz lembrar aqueles tempos da Idade Média, onde a ideia de ter muitos filhos era vista como uma forma de combater a miséria, uma vez que permitia aumentar a mão de obra para trabalhar a terra.

Outra frase que a nossa bem-amada ministra disse foi que o país tem os “cofres cheios”. Ora, este argumento é muito utilizado pelos defensores de uma determinada figura. Pois é, os saudosistas da ditadura gostam muito de dizer que, nessa altura, Portugal tinha os cofres cheios. Tanto a uns como a outros, o preço a pagar por isso é indiferente. A isto acresce o facto de os nossos cofres estarem cheios de dinheiro que escoará para os juros de uma dívida astronómica e, consequentemente, impagável, e não para o desenvolvimento do país. É precisamente aqui que reside uma das grandes contradições da política que está a ser posta em prática: apesar de tudo o que se tem feito para se reduzir o défice, não se consegue reduzir a dívida. Ainda assim, a obstinação destes senhores ultraliberais impede-os de procurar soluções alternativas para resolver o problema da dívida.

Existem momentos na política onde é difícil discernir a hipocrisia da obstinação. Um dos mais relevantes relaciona-se com o discurso do Governo sobre o desemprego. Perante o subemprego em massa, a precariedade, a falta de criação de postos de trabalho qualificados, a emigração e outros factores a considerar, como os milhares de cidadãos que vêem na realização profissional uma miragem, os nossos governantes e os seus apoiantes regozijam-se com a diminuição da taxa de desemprego. Ora, para além dos defeitos inerentes à fórmula de cálculo desta taxa, todos sabemos que a sua diminuição não se prende com um melhoramento da economia nacional. Essa diminuição não é mais do que um reflexo de todos aqueles que procuraram no estrangeiro as oportunidades que não encontraram no seu país e, também, de todos aqueles que, estando qualificados para trabalhar em sectores de elevado valor acrescentado, assumem funções despidas dessas mesmas qualificações. Não nos esqueçamos que o país investiu na qualificação dos mais jovens, à imagem do que fizeram as economias mais desenvolvidas do mundo, e que agora desperdiça os frutos desse investimento, desaproveitando o dinheiro gasto e dando a oportunidade para que outras economias absorvam toda esta riqueza criada sem terem que assumir quaisquer custos.

Enfim, perante o discurso do Governo, teremos que ter nervos de aço e procurar não nos deixar desviar daquilo que teremos que fazer: alicerçados sobre uma base teórica forte de cariz progressista, assumir uma postura prática no desenvolvimento e na apresentação de um programa que responda à urgência das questões de curto-prazo e lance as bases para uma política de desenvolvimento de longo prazo. A situação a que chegamos é também da responsabilidade de todos aqueles que não souberam congregar e organizar forças para combater o rumo ultraliberal iniciado nos anos oitenta. Ou assumimos essa responsabilidade, ou seremos espectadores do triunfo de Hayek, Friedman e companhia.

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por Pedro Lopes às 00:22


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