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r/c esquerdo



Terça-feira, 31.03.15

Frente Única Anti-Austeridade, a diferença com o oportunismo.......

Cada vez se torna mais importante perceber a urgência de uma frente única anti-corrupção e anti austeritaria com tod@s os que estejam dispostos a este combate democrático por uma nova governação que rompa com estas políticas e permita vislumbrar um futuro para a nossa população, @s nosso@s jovens, @s noss@s trabalhador@s, @s noss@s idos@s.
Fundamental ....não aceitar políticas de gueto, históricas, nem de auto-proclamações sectárias, nem oportunistas, de unidades sem princípio e sem políticas, disso depende a sobrevivência e a vitória da esperança para uma saída do "estado a que isto chegou".....
Vamos nessa, pela democracia e pelo futuro sem austeridade nem corrupção...... por um programa que permita uma ampla unidade anti-corrupção e anti-austeritária, por um governo que rompa com esta situação miserável em que esta miserável direita nos colocou ......
Não havendo margens para meias tintas nem para oportunismos, este designio exige coragem, clareza política, vontade de grandes maiorias sociais, neste combate político e social por um futuro diferente, de rotura com o estado em que nos deixaram, associando-nos ao enfrentamento do governo grego e de todos os povos do sul da Europa, que tomem este combate como seu.........na União Europeia...... Para mudarmos a realidade das políticas europeias.....Por outra Europa, pelo Estado Social, pela justiça e por um desenvolvimento sustentável......

 

Esta é a diferença de quem quiser fazer futuro, ou gerir simplesmente a crise de ausência de ideias e de políticas.....

 

Francisco Colaço

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por Francisco Colaço às 12:34

Terça-feira, 31.03.15

Ripadas eleitorais em tempos de abstenção...


Regionais na Madeira, as notícias da morte do Bloco continuam manifestamente exageradas, as ripadas eleitorais do Centrão e incapacidade da esquerda em mobilizar a crescente abstenção.

 

PSD perde 21% do eleitorado, passando dos 71.556 votos em 2011, para 56.690 votos em 2015.

 

O CDS, apesar do spin de Portas, perde 33% dos eleitores, passa de 25.974 votos em 2011, para 17.514 votos em 2015.

 

O PS encabeçou uma estranha coligação que desbaratou os 33.031 votos de 2011, para os eclipsar em magros 14.593 votos, menos que o PS sozinho à 4 anos.

 

PCP e Bloco reforçam resultados, elegendo 4 deputados, com o PCP a apostar na recontagem de 5 votos para retirar a maioria ao PSD.

 

E surpreende (ou não) o resultado de um partido-movimento: JPP (Juntos Pelo Povo).

 

O fantasma crescente: a Abstenção, sobe 13%, passando a representar 50,28% do eleitorado.

Este espectro está presente, cresce e espalha um lastro de "ilegitimidade" ao próprio regime democrático.

A esquerda tem tido dificuldade em capitalizar o descontentamento crescente do eleitorado com um centrão cada vez mais indistinto nas soluções políticas e semelhante no bordel de interesses instalados.

Falta proximidade, falta abertura, falta um discurso claro e um caminho de alternativas viáveis e credíveis, falta a desmistificação da esquerda papão, falta o desafio constante e a disponibilidade para o diálogo? O que é que falta?!

 

Parabéns pelo trabalho aos militantes do Bloco na Madeira!

 

Resultados das Regionais aqui.

 

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por Ricardo Gonçalves às 12:02

Quinta-feira, 26.03.15

Brevíssimo guia do voto tático para quem não quer maioria absoluta do PSD na Madeira

Aparentemente, as sondagens disponíveis (ver aqui e aqui) preveem fortes possibilidades de o PSD voltar uma vez mais a vencer as eleições madeirenses com maioria absoluta. Mas há eleitores que não o desejam. Que acham, mesmo, que esse seria o pior resultado possível, porque manteria tudo na mesma na política regional, com o mesmo défice democrático típico do jardinismo e as mesmas opções governativas.

O que devem essas pessoas fazer para assegurar que o PSD não tem maioria absoluta?

A questão é a seguinte: o sistema eleitoral na Madeira é bastante fiel à proporcionalidade, mas isso não quer dizer que deixe de haver distorções entre as percentagens de votos obtidos por cada força política e as percentagens de deputados que depois elas vão eleger. Há distorções por dois motivos. Um é o método de Hondt, que concede um ligeiro benefício aos partidos mais votados e prejudica os restantes, também ligeiramente. E o outro são os votos desperdiçados em partidos que não elegem deputados. Ambos os fatores (a que acrescem os votos brancos e nulos, que nunca servirão para nada) fazem com que a força política que chegar à frente possa conseguir uma maioria absoluta com menos de 50% dos votos. A questão está em quão menos.

O eleitor tático não parece poder fazer nada quanto ao primeiro fator: o PSD parece ter garantida a vitória, a coligação Mudança parece estar de pedra e cal em segundo lugar apesar de não ter a mais pequena hipótese de vitória, portanto serão esses os beneficiados e os restantes os prejudicados. Mas pode influenciar o segundo fator.

É que quanto menor for o número de forças políticas que conseguir entrar na assembleia legislativa, menor será a percentagem que o PSD terá de atingir para obter uma maioria absoluta (porque serão mais os votos que se desperdiçam). Ou seja, por paradoxal que possa parecer à primeira vista, é votar nas forças políticas que estão no limiar entre a eleição e a não eleição de deputados que será mais eficaz para impedir a maioria absoluta do PSD.

E essas forças são, com CDS, JPP e CDU em posições aparentemente confortáveis, com a eleição garantida, e MAS, PPM/PDA e PNR aparentemente demasiado longe do objetivo, o Bloco de Esquerda, o PND e o MRPP.

Em suma: queres impedir que o PSD tenha maioria absoluta na Madeira? Ajuda a garantir que BE, PND e MRPP elegem deputados para o parlamento regional.

Pessoalmente, entre esses três sugiro o BE. Mas cada um sabe do seu voto.

 

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por Jorge Candeias às 19:52

Quarta-feira, 25.03.15

A esquerda e as emergências

abarreto.png

Ainda voltarei a estas muitíssimo lamentáveis declarações de António Barreto, nomeadamente para mostrar até que ponto elas são não só lamentáveis mas reveladoras de muita coisa francamente desagradável.

Para já, queria só deixar uma notinha rápida.

É trágico que os países e os povos só se voltem para a esquerda, ou para a esquerda da esquerda, se preferirem, quando o resto do sistema político os deixa num estado de tal forma catastrófico que já ultrapassa a mera crise e passa ao grau de emergência. É trágico porque coloca os dirigentes da esquerda na posição de ter de gerir situações-limite que, pela sua própria natureza, têm grande probabilidade de correr mal, o que abre as portas a este tipo de baixa demagogia que se vê no vídeo a que acima se liga e no título que o acompanha. Quem ouça os Antónios Barretos deste mundo dizer disparates que Passos e Portas aplaudiriam, sobre "o syriza estar a pôr em crise boa parte da Europa", como se até aqui tudo estivesse a correr às mil maravilhas, como se não houvesse uma multidão de emigrantes à força, outra de desempregados e outra de subempregados, como se não tivéssemos mais dívida, como se o tecido produtivo não tivesse sido em boa medida arrasado, como se ainda houvesse investimento, como se a banca estivesse sólida, como se não se tivesse andado a desbaratar o património de todos para pagar juros exorbitantes, como se as "almofadas financeiras" fossem mesmo boas para nós, como se os nossos gestores premiados e privados não deitassem abaixo empresas que sempre foram sólidas enquanto foram públicas, e podia continuar aqui em como-ses até ficar sem fôlego, quem ouça os Antónios Barretos dizer estes disparates, dizia, e tenha passado os últimos anos escondido debaixo de uma pedra é capaz de imaginar que a crise começou quando o Syriza entrou no governo.

Infelizmente, a verdade é que o Syriza só foi para o governo quando a crise já tinha passado a catástrofe. A crise que outros geraram e que outros geriram, fazendo-a aprofundar-se um pouco mais todos os dias. A crise a que o Syriza está a fazer um esforço sobre-humano, e contra ventos, marés e todas as espécies de sabotagens, para pôr cobro. E a crise que qualquer governo de qualquer partido teria uma gigantesca dificuldade em resolver, mesmo sem ser sabotado por tudo e todos.

Seria bom que, por uma vez sem exemplo, a esquerda, ou a esquerda da esquerda, se preferirem, pudesse pôr em prática as suas ideias em condições de alguma estabilidade. Sem violentas depressões económicas, sem dívidas impagáveis, sem guerras, sem bloqueios, sem sabotagens.

É utopia, bem sei. Mas de que serve a vida sem utopias?

 

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por Jorge Candeias às 22:50

Terça-feira, 24.03.15

Morreu Helberto Helder, um dos poetas mais importantes do séc. XX.

Helberto Helder (1930-2015)

Hoje morreu o poeta.
Um dos maiores, dizem.
Talvez o único a viver enclausurado na dor da criação.
Onde as palavras se tornam corpóreas na transgressão do real.
Tocarão os sinos a rebate e a hipocrisia irá sentar-se à mesa dos comuns mortais, para lhe erguer estátuas e baptizar com o seu nome as ruas da cidade.
Por baixo das folhas do tempo só as palavras se farão eternas.

Sobre um Poema

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

Herberto Helder



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por jorgete às 18:06

Terça-feira, 24.03.15

Breve manual sobre os cofres cheios – versão para leigos

Colocamos um especialista em finanças públicas a falar com um leigo curioso para debaterem os “cofres cheios”. Ambos desejaram manter-se anónimos. Eis a transcrição da entrevista.

 

Leigo (L): É bom ter os cofres cheios ou não?

Especialista em Finanças Públicas (EFP): Se Portugal tivesse bom nome na praça nunca teria a necessidade de ter os cofres cheios ou pelo menos tão cheios.

 

L: Porquê?

EFP: Porque ter os cofres cheios com dinheiro que não nos pertence sai muito, mas mesmo muito caro.

 

L: Dinheiro que não nos  pertence, mas como é que é isso?

EFP: Os cerca de 18 mil milhões de euros que temos em depósitos a prazo junto do Banco Central Europeu (BCE) são uma gota de água perto do mais de 200 mil milhões de euros que o Estado português está a dever. Na realidade o que o Estado tem feito cada vez que vai aos mercados pedir dinheiro para renovar os contratos de dívida que temos ou para financiar o nosso défice anual é pedir um pouco mais do que esse valor e depois tem posto esse excesso de parte, em depósitos. Ou seja, esse dinheiro que agora totaliza os 18 mil milhões de euros e que está depositado no BCE vem de dinheiro que pedimos emprestado e que estamos a pagar todos os anos, da mesma forma que pagamos os empréstimos que ajudam a pagar estradas, hospitais ou os juros dos juros ou qualquer outra despesa do Estado.

 

L: Não sei se percebi…

EFP: Explicando melhor, imagine que quando foi pedir dinheiro para comprar casa pediu, além do valor necessário para a casa, mais um extra para ter depositado na conta. Naturalmente esse dinheiro que tem no banco – os seus cofres cheios – pagam juro como o resto do crédito usado efetivamente para pagar a casa. É um bolso cheio que paga juros. E no caso do Estado, nesta altura do campeonato até paga juros duas vezes. Fiz-me entender?

Nova nota 20 euros 2015 outra face

Nova nota 20 euros 2015 outra face

 

L: Creio que percebi mas que história é essa de pagar juros duas vezes? E isso é possível?!

EFP: Sim, é um efeito nefasto da política monetária do Banco Central Europeu, a mesma que tem patrocinado taxas de juro historicamente baixas nos mercados e que tem permitido pedir dinheiro emprestado mais barato.

 

L: Mas ainda não percebi. Como é que os “cofres cheios” pagam juros duas vezes?

EFP: É simples. Pagam os juros do crédito de que já falei e, por outro lado, como estão depositados  no Banco Central Europeu que tem juros negativos, em vez de receberem juros pelos depósitos ainda pagam, neste momento, uma taxa de -0,2%.

 

L: Juros negativos? Mas porque é que o Banco Central Europeu em vez de pagar juros pelos depósitos que recebe ainda cobra?

EFP: Porque o BCE quer que os bancos que costumam lá deixar o dinheiro depositado comecem a emprestar às empresas e famílias e por isso penaliza-os se insistirem em deixar lá dinheiro parado. O Estado português ao depositar lá o dinheiro apanha por tabela e quanto mais tempo lá deixar o dinheiro menos terá no final.

 

L: Mas a ministra das finanças diz que esse dinheiro é importante para estarmos protegido de um problema qualquer nos mercados…

EFP: Sim, pode ter razão. A verdade é que continuamos extremamente dependentes da política monetária do BCE e da evolução do debate político dentro da Zona Euro. Tem sido o compromisso do BCE em suportar o euro e, mais recentemente, o seu compromisso e prática corrente de ir ao mercado comprar dívida pública que tem feito descer as taxas para mínimos históricos em muitos países da região. Se isto for de alguma forma colocado em causa ou se a estabilidade política e financeira da Zona Euro entrar em crise, tudo pode mudar dramaticamente muito depressa. O acesso aos mercados pode ficar comprometido e substituir dívida que se vence por dívida nova pode passar a ser impossível. Um sarilho parecido com aquele em que ficámos em 2011.

 

L: Mas esse risco é real? E afinal quanto custa ter esses cofres cheios? As taxas não estão baixas?

EFP: Se esse risco não for real porque haviamos de estar a juntar tanto dinheiro para ter de reserva sabendo que é um negócio tão caro? Quanto à sua segunda pergunta, partindo dos 18 mil milhões de euros que tinhamos em depósitos no BCE há pouco tempo, custa desde logo cerca de 36 milhões por ano no que se tem de pagar ao BCE para ter lá o dinheiro depositado e depois têm de se pagar os empréstimos que nos permitiram ter esses 18 mil milhões depositados. Não sabemos exatamente qual é a taxa de juro mas se assumirmos que terão sido contratados à taxa média de 3,5% (que deve andar próximo da que pagamos pela nossa dívida pública total, os tais mais de 200 mil milhões) podemos estar a falar de um custo de mais 630 milhões, ou seja, cerca de 666 milhões de euros ao todo por ano, ou se quisermos, um mês de despesa de todo o ministério da saúde.

Zona Euro

L: Mas o governo tem dito que a situação económica é que tem permitido assegurar as taxas atuais e a confiança dos mercados. Não é verdade?

EFP: Repito, se assim fosse para que seria necessário ter os cofres cheios? Quando um Estado ou empresa ou pessoa é de boas contas, credível e economicamente saudável nunca tem dificuldades em obter crédito, na realidade, todos lho oferecem e, como tal, não precisa de guardar grandes volumes de dinheiro ainda para mais perdendo dinheiro com as taxas negativas.

 

L: Então o que o governo diz é mentira?

EFP: Vejamos as coisas nestes termos: o contributo mais importante do governo tem sido o de se manter alinhado com as exigências que o BCE e a troika têm feito em relação ao que acham ser o caminho a seguir pela nossa economia e poder político. Essa tem sido a forma de assegurar que o BCE nos continua a pôr a mão por baixo, a financiar os bancos portugueses, etc. Mas de um ponto de vista económico, do ponto de vista dos grandes indicadores, Portugal está longe de ter argumentos que lhe permitissem regressar aos mercados sem essa bóia do BCE. A dívida pública continua a subir e mesmo com o PIB a crescer está a fazê-lo mais devagar do que tem crescido a dívida pelo que o país está a dever cada vez mais dinheiro face ao que consegue produzir. Por outro lado, ao longo destes anos de austeridade, não só perdemos centenas de milhar de trabalhadores para a emigração e para a inatividade como as próprias empresas ao não terem investido ou sequer substituído equipamentos que envelheceram estão agora com muitas dificuldades em aproveitar o crescimento económico  que vem de fora e que o BCE e o ciclo económico internacional tem vindo a tentar promover.

 

L: Ou seja, o que o governo tem conseguido, mesmo com fracos resultados, é suficiente?

EFP: É suficiente para que possamos beneficiar das medidas de emergência implementadas para toda a Zona Euro.  Medidas que, diga-se em abono da verdade, têm uma orientação política clara muito próxima da defendida pelo governo português.  Veja bem, não é por acaso que quase todos os países têm hoje as taxas de juro mais baixas da sua história. Não é propriamente uma particularidade de Portugal. O que o governo fez é a condição necessária para comprar o “bilhete” que dá direito à política do BCE mas não é condição suficiente para sermos autónomos ou sustentáveis só por nós. Isso já dependeria da avaliação dos mercados, alheia a considerações políticas estritas. Aliás, provavelmente, como disse, estamos até pior em termos de dependência do que em qualquer outro momento na nossa história recente. A verdade é que, em quase todos os indicadores habitualmente valorizados pelos mercados, estamos pior do que em 2011. A diferença é que há um compromisso do BCE que nos isola das nossas próprias vulnerabilidades.

 

L: Mas então… os cofres cheios são para?

EFP: O governo ao querer ter o cofres cheios está implicitamente a reconhecer que a qualquer momento a atual situação de acesso aos mercados pode mudar sem que ele tenha qualquer controlo sobre os eventos. Lá está, a tal fragilidade que o discurso político nega, mas que esta política de apostar em cofres cheios confirma.

Desmontando frases feitas

L: E o que pode provocar essa mudança para pior?

EFP: Há muitos fatores, alguns mais espetaculares outros menos. Note que pode ser simplesmente o facto de as principais economias europeias deixarem de justificar a política atual do BCE. Se no futuro o que for importante para a economia Alemã for diferente do que é importante para a Portuguesa, o BCE irá alterar a sua política para lidar com a maior economia europeia, por exemplo, terminando com a política de preços baixos [preços do crédito]. E isso pode ser um sarilho para quem está tão endividado. Por outro lado, se houver um problema sério na Grécia com a sua eventual saída do euro isso pode gerar um movimento de desconfiança dos mercados direcionado a Portugal – de que vimos um exemplo em outubro de 2014. Pode ainda acontecer que a conjutura económica mundial piore e que com isso nós tenhamos de novo que passar por um período de grande fragilidade.

 

L: Mas então o dinheiro dos cofres permitir-nos-ia viver melhor durante esses problemas. Afinal é uma boa ideia.

EFP: O dinheiro em causa apesar de parecer muito é apenas um gota de água face às necessidades de médio prazo da economia portuguesa. Só em 2015 precisamos de 11 mil milhões de euros, em 2016 será necessário muito mais do que isso, uma parte para financiar o défice do Estado e outra para pagar dívida que se vence e que temos de substituir por dívida nova. Este dinheiro, se acreditarmos que pode estar iminente uma grave crise na Zona Euro, pode salvaguardar-nos durante uns meses. Pode dá-nos tempo para pensar no que fazer e como fazer sem que haja de imediato um choque, mas se a fonte do problema perdurar, o dinheiro esgota-se dado que nesse cenário provavelmente teremos perdido acesso aos mercados a taxas comportáveis.  Por isso, ter essa almofada é tão mais importante quanto maior for a nossa fragilidade percebida hoje.

A verdade é que se Portugal tivesse hoje uma imagem efetivamente robusta nos mercados internacionais não precisaria de ter milhares de milhões de euros parados. Essa necessidade é real precisamente porque os mercados percebem Portugal como o segundo país mais frágil imediatamente a seguir à Grécia.

 

L: Que confusão. Então… deviamos esvaziar o cofres?

EFP: Não necessariamente. Este é um dos vários mecanismos de gestão da dívida. A realidade é que o nosso nível de fragilidade é mesmo grande e por isso, faz sentido ter alguma almofada sabendo que esta deve ter uma dimensão razoável dado que quanto maior for mais ela própria contribui para o problema de fundo que é o da insustentabilidade da dívida. E neste caso, ao contrário do que pode acontecer com outros empréstimos que façamos para dinamizar investimento, formar melhor as pessoas, melhora a saúde, etc, nunca vai oferecer retorno. Ele apenas servirá, quanto muito, para amortecer o sofrimento, o choque de alguma surpresa nefasta.  Não será de somenos, note bem, mas será sempre numa perspetiva de diminuir a dor, nunca de resolver o problema.

 

L: Hum. Então quanto devemos ter nos cofres, na sua opinião?

EFP: Este dinheiro é como um seguro que durará pouco tempo e que é caro. Por isso saber de quanto deve ser o valor depositado depende da nossa previsão sobre o futuro e das alternativas que tenhamos para esse dinheiro. Se estamos muito frágeis, e estamos, devemos fazê-lo. Por outro lado é preciso nunca esquecer que para termos esta almofada estamos a deixar de investir noutras áreas e a pagar uma quantia importante de juros. Eu diria que ter o equivalente a 12 meses de necessidades de financiamento me parece comportável e equilibrado, mas é um número discutível.

É preciso não esquecer que temos os cofres cheios de dinheiro emprestado. 

 

L: Ok. Obrigado.



Leia mais: http://economiafinancas.com/2015/breve-manual-sobre-os-cofres-cheios-versao-para-leigos/#ixzz3VJImxe6G
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por Ricardo Gonçalves às 13:41

Segunda-feira, 23.03.15

Quem quer casar com a Joaninha, que é rica e bonitinha?

Vem na imprensa.

Aparentemente, o Agir (perdão: o AG¡R), que a Joana Amaral Dias e mais um punhado de três ou quatro resolveu criar depois de sair do Juntos Podemos, que também criou e depois quis, ela e o mesmo punhado de três ou quatro, descriar, aparentemente sem grande sucesso, vai "coligar-se" com o PTP, um simpático mas patusco partidinho que fez os tempos de antena mais toscos das campanhas eleitorais mais recentes (e tem site a condizer) e tem como coroa de glória umas eleições regionais madeirenses em que, depois de acolher o José Manuel Coelho e a família, que andavam à procura de partido depois de se zangarem com o anterior albergue espanhol, a Nova Democracia, chegou quase aos 7% lá nas ilhas mas que, a nível nacional, nunca atingiu os 0,7%.

O giro é que parece que o PTP foi o único que a quis, depois de correr PAN (Animais e Natureza, ecologistas, recusam alinhamentos em termos de esquerda/direita), MPT (Partido da Terra, ecologistas de direita), PND (Nova Democracia, o tal com que o Coelho se zangou, criado pelo Manuel Monteiro depois de se zangar com Paulo Portas e o CDS... direita, naturalmente), PPM (Popular Monárquico, o mais marialva e dos mais direitistas partidos portugueses) e PPV (Pró-Vida, criado por fundamentalistas católicos na sequência da luta contra a despenalização da interrupção voluntária da gravidez e que tem vindo a intervir com virulência a favor de tudo o que há de mais reacionário neste país).

Ao ler esta lista, a única coisa que me veio à cabeça foi a velha lengalenga da história da Carochinha, que neste caso tem outro nome:

Quem quer casar com a Joaninha, que é rica e bonitinha?

Quero eu!

E quem és tu?

Eu sou o boi...

No fim da história, a Joaninha, como a Carochinha antes dela, lá encontrou o seu João Ratão. Mas, se bem me lembro, o João Ratão não acaba nada bem. Nada mesmo.

 

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por Jorge Candeias às 22:24

Sexta-feira, 20.03.15

Sobre a direita chouriço e outras orientações ideológicas

Isto é um post muito rápido, só para chamar a atenção de todos para este magnífico (magnífico, digo-vos eu) artigo de Leonel Moura.

Vão ler, vão, que vale mesmo muito a pena.

 

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por Jorge Candeias às 15:54

Quinta-feira, 19.03.15

O tratado orçamental enquanto quadratura do círculo

Há dias, o Ricardo Paes Mamede publicou no Ladrões de Bicicletas um artigo em que afirma que o FMI matou o tratado orçamental. A base para a afirmação é uma tabela em que sumariza as previsões feitas pelo fundo para a evolução da dívida pública em percentagem de PIB, que nem por uma vez respeita uma regra do tratado, que determina que sempre que um país tem a dívida acima dos 60% do PIB deve reduzi-la, em média, um vigésimo por ano, ou seja, 5%. Essa regra está no artigo 4º do tratado.

Ora, eu acho que o Ricardo Paes Mamede tem toda a razão, mas não vejo nisto grande novidade. Que o FMI assuma aquilo que toda a gente já sabe há muito, ou seja, que o tratado orçamental é completamente absurdo e impossível de cumprir, será só mais um episódio dos lampejos de lucidez que volta e meia atacam alguns técnicos do Fundo, enquanto outros técnicos do mesmo Fundo continuam a parecer só conseguir responder com a palavra "austeridade" a seja qual for a pergunta que se lhes faz.

(— Quer um cafezinho? — pergunta, solícita, a Maria Luiz.

— Austeridade! — responde, austeritário, Subir Lall.)

Mas isto não é a morte do tratado orçamental. Limita-se a ser a assunção do nosso não cumprimento.

Ora, o não cumprimento acarreta a possibilidade (e, tendo-se transformado a "União" Europeia na coisa em que se transformou, a quase certeza, diria eu) de sanções, que podem chegar a 0,1% do PIB. Todos os anos.

Parece pouco, 0,1%?

Pois, mas são quase 200 milhões de euros. Todos os anos.

O que vale é que a segurança social já não é viável porque é gerida com os pés. Imaginem se fosse e lhe fossem tirados 200 milhões de euros todos os anos por causa de uma multa pelo não cumprimento de um tratado tão estúpido que até o FMI já percebeu que é impossível cumprir. Deixava de ser, certo?

E é por estas e por outras que eu não entendo como é possível que alguém proponha políticas keynesianas (que são absolutamente fundamentais, não só em Portugal mas em toda a Europa) sem ao mesmo tempo pôr em causa esta aberração orçamental europeia que, numa palavra, as proíbe.

É das tais coisas que não me conseguem entrar na cabeça nem a martelo.

Devo ser muito parvo.

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por Jorge Candeias às 20:35

Quinta-feira, 19.03.15

Sobre a cobardia política e o apêgo ao pote.....:(ou do que é feita a governação no nosso país)

O governo cria uma lista VIP de contribuintes, provavelmente para blindagem, a coisa descobre-se e é denunciada pelo sindicato, primeiro desmente-se, depois quando a Procuradoria se prepara para investigar, demite-se o director dos impostos......

Será que em termos futebolísticos, quando uma equipa joga mal e tem péssimos resultados se demite o massagista??????!!!!!!!  

Nunca ví na democracia portuguesa tanta cobardia política nem tanto apêgo ao pote, como neste governo......... que está na proporção inversa da competência e dos bons atributos...........resultado de "uma maioria, um governo, um presidente"........e da ausência de quaisquer qualidades e princípios, éticos, morais, políticos, ....a direita lacaia do capital no seu pior.....

 

Urge refundar a democracia e repôr os valores republicanos da justiça, da ética e da moral.........o socialismo.

 

Francisco Colaço

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por Francisco Colaço às 20:11

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